quarta-feira, agosto 21

Três pacientes morrem em menos de 1 mês à espera de leito de UTI no Hospital dos Pescadores

fonte: http://jornaldehoje.com.br/
A falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Rio Grande do Norte continua fazendo vitimas. Nesta terça-feira, o paciente Gilson Alves de Andrade, 52 anos, que estava internado no Hospital dos Pescadores, morreu, depois de uma longa espera por leito de UTI. A família recorreu à Justiça, que determinou que o Estado ou o Município de Natal disponibilizassem a vaga de UTI para o paciente. No entanto, nem o Governo do Estado nem a Prefeitura de Natal cumpriram a decisão judicial e o paciente morreu. Este é o terceiro caso de morte, pelo mesmo motivo, em menos de 30 dias, apenas no Hospital dos Pescadores, que é administrado pela Secretaria Municipal de Saúde de Natal. O Hospital dos Pescadores não dispõe de leitos de UTI, mas conta com uma grande demanda de pacientes em estado grave. Na unidade, há apenas uma sala de estabilização, com capacidade para dois pacientes, mas só há um respirador.

A Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) informou, através de nota, que o atendimento da demanda judicial não foi possível em virtude de não existir leitos de Unidade de Terapia Intensiva na Secretaria Municipal de Saúde, nem disponibilidade de vagas na rede estadual. “Tão logo recebeu a determinação judicial, a Secretaria de Estado da Saúde Pública cadastrou o nome do paciente na lista de prioridades o que, infelizmente, não foi conseguido a tempo. Em função da crise financeira enfrentada pelo Estado, agravada pela frustração de receitas no primeiro semestre de 2013, a Sesap encontrou dificuldades na contratação de leitos de UTI na rede privada. Mesmo assim, insistiu em contratar os Hospitais Particulares, mas não obteve resposta”, diz a nota.

Através da nota, O Governo do Estado lamentou a morte do paciente e comunicou que está trabalhando para estruturar a rede hospitalar em todo Estado. A meta é implantar mais 150 novos leitos de UTI até 2015, sendo 56 até o fim deste ano, somando-se aos 148 leitos de retaguarda e 33 novos leitos de UTI já implantados. A reportagem tentou entrar em contato com a direção do Hospital dos Pescadores, mas não havia nenhum dos diretores na unidade na manhã de hoje.

A coordenadora de Operações de Hospitais e Unidades de Referências (Cohur) da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), Camila Costa, garantiu que “todos os esforços foram empreendidos para conseguir garantir o leito para o paciente e que foi feito um rastreamento em toda a rede”, mas esbarrou na falta de leitos tanto na rede privada, quanto na rede pública. Camila conta que já há um déficit interno em todos os hospitais, com pacientes à espera de leitos de UTI, como é o caso do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel que hoje tinha 22 pacientes na fila de espera. A situação é a mesma no Hospital Deoclécio Marques de Lucena. No Hospital Santa Catarina, que conta apenas com três leitos de UTI, os pacientes que necessitam de cuidados intensivos são internados na sala de reanimação. No Hospital Giselda Trigueiro é comum os pacientes serem “acomodados” no Pronto Socorro, numa espécie de UTI improvisada.

“A situação é crítica. Recebemos a determinação judicial, mas não podíamos tirar um paciente do leito de UTI, que já estava em situação grave. Não houve um descumprimento da liminar, apenas não conseguimos o leito em nossa rede, nem na rede privada. Não pudemos contratar leitos, pois não existe leito disponível na rede privada. A ocupação, diariamente, também gira em torno de 100%. Contratar leitos na iniciativa privada não vai resolver o problema, talvez melhore. Precisamos abrir novos leitos, mas isso não é fácil. Não é apenas a estrutura física, requer também recursos humanos capacitados”, destacou Camila Costa, coordenadora da Cohur.

Camila Costa disse que a Secretaria Estadual de Saúde Pública está fazendo uma força-tarefa para ampliar a oferta de leitos de UTI para outras regiões do Estado, como por exemplo, Caicó e Pau dos Ferros. Hoje, a maioria dos leitos de UTI está concentrado em Mossoró e Região Metropolitana de Natal. “O nosso desafio é preencher esses vazios existenciais, de modo que estes hospitais possam assumir os pacientes com capacidade de resolutividade”. A coordenadora confirmou que o processo de ampliação dos leitos deve se concretizar nos próximos meses. O Hospital Ruy Pereira deve passar de quatro leitos para dez leitos de UTI. O Hospital Santa Catarina, cuja reforma deve ser concluída em 45 dias, deve passar dos atuais três leitos para dez leitos.

Além disso, novos leitos serão abertos. É o caso dos dez leitos de UTI Neonatal que serão abertos no Hospital Infantil Varela Santiago. Camila Costa disse que o Hospital já licitou a compra dos equipamentos, mas enquanto eles não chegam, o Estado deve emprestar os equipamentos que existem no Hospital de Caicó e que não está sendo utilizado por falta de profissionais capacitados. “O Estado vai financiar o aluguel dos dez leitos enquanto o Ministério Público não habilita os leitos. Os recursos já estão garantidos”, afirmou.

Através de uma gestão compartilhada entre o município, Estado e o Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), deve ser aberto mais dez leitos no HUOL nos próximos meses. Camila disse que a negociação já está bem avançada. O município de Natal entraria com os profissionais de enfermagem, o Estado com a equipe médica e o Hospital com a estrutura física.

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