ONG de assistência ao trabalhador com unidades no Rio e em SP está no centro do esquema
SÃO PAULO e BRASÍLIA - A Polícia Federal (PF) prendeu oito pessoas nesta terça-feira, incluindo um secretário-executivo do Ministério do Trabalho, durante uma operação que apura irregularidades no repasse de até R$ 47,5 milhões do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para a ONG Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat). A ONG possui 12 unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Na operação batizada de “Pronto Emprego”, um dos assessores
do secretário-executivo Paulo Pinto foi preso com cerca de R$ 30 mil de propina
num hotel de São Paulo. Segundo o delegado Rodrigo Sanfurgo, responsável pela
operação, o assessor chegou a São Paulo na noite de segunda-feira, vindo de
Brasília. À tarde, visitou uma unidade da ONG, localizada na Zona Sul
paulistana, onde recebeu o dinheiro. Em seguida, foi para o hotel.
O assessor, segundo delegados da PF, foi responsável por
assinar convênios entre o Ceat e o Ministério do Trabalho. A ONG é a que mais
recebe verba do ministério para manter centros de qualificação profissional —
ao todo, desde 2009, recebeu cerca de R$ 47,5 milhões do Ministério do
Trabalho.
A PF não sabe ainda o valor exato da quantia desviada.
A presidente do Ceat, Jorgette Maria de Oliveira, também foi
presa. A PF realizou buscas na casa dela, em São Paulo, encontrando carros de
luxo das marcas Audi e Land Rover, que foram apreendidos. A diretoria da Ceat
estava comprando mercadorias da China, que seriam revendidas numa loja da rua
25 de Março, para lavar o dinheiro.
Segundo o delegado da Delegacia de Repressão a Crimes
Financeiros (Delefin), da PF, a investigação não é um desdobramento das irregularidades
que derrubaram o ex-ministro Carlos Lupi (PDT), demitido em dezembro de 2011. A
PF ainda não encontrou vínculos entre partidos, embora Jorgette tenha sido
filiada ao PDT, que controla a pasta.
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Além de na unidade da ONG em São Paulo, a PF fez buscas no
Ministério de Trabalho em Brasília. A Polícia Federal constatou o desvio dos
recursos públicos e lavagem de dinheiro desde a concessão de verbas, passando
pelo direcionamento das contratações, inexecução de contratos, doações
fictícias e simulações de prestações de serviço até a reinserção do dinheiro ao
sistema econômico-financeiro.
Foram cumpridos 38 mandados de busca e apreensão em São
Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, todos expedidos pela Justiça Federal de São
Paulo. A operação contou com a participação de 150 policiais federais e dois
auditores do Tribunal de Contas da União (TCU), que teria constatado
irregularidades na prestação de contas do Ceat. Os presos responderão por
quatro crimes: corrupção, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e
peculato. Somadas, as penas podem chegar a 37 anos.
Fundada em 2002, a Ceat se define como uma Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) “que se tornou uma referência na
inclusão socioprodutiva e no resgate da autoestima do trabalhador”.
“A organização surgiu em função da necessidade de enfrentar
um cenário dramático de desemprego no Brasil, em particular, na região
metropolitana de São Paulo”, diz o site da ONG. “Desde sua inauguração, em
2002, já atendeu mais de um milhão de trabalhadores em condição de desemprego.”
Procurados pelo GLOBO, nenhum funcionário da ONG quis dar
entrevista.